A sombra espalhou pelos poros,
A íris brilhante solidificou em verde,
Preciosidades se perderam entre os anos que passavam como dias.
A música havia se tornado profana
Afundando o espírito em trevas
Elevando os instintos primitivos em ritmos frenéticos.
E a beleza era vista em lances repartidos
juntas em um quadro enigmático
Assim, a imagem se partia para iludir os olhos errantes.
Vítimas escolhidas pelo ego
Anunciavam a continuidade de um hino entoado pelos banidos
E o que era visto pelos olhos cresciam em movimento retrogrado.
Impérios se erguiam na vaidade
e se entregavam às ruínas de suas ambições;
Mãos atadas contra a corrente.
A saudade de casa era ouvida na alma
e a revolta somava quatro no mundo
e mais mãos eram atadas contra a corrente.
Ilusões de um mundo particular
passavam pelo coração, espalhando pelo corpo em mestatase
figurando o rancor em câncer.
Propostas feitas e refeitas em vão
mostrando o caminho que não se seguia
cegando ainda mais os olhos que não se podiam tocar
O tempo ia passando e células odientas se multiplicavam,
tornando cada tentativa em desaprendizagem
ou aprendizagem contrária que era agregada na pele que também não se tocava.
Sentimentos coléricos podiam ser tocados com os dedos que se tocam,
Máscaras ornamentadas na face ilustravam toda animalidade,
A fera se fazia homem para mirar o próprio homem.
A primavera coverteu-se em cinza
Os animais se amavam em mensagem divina
Mas eu, ainda cego, não podia ver suas verdadeiras cores.
Em folhas brancas a antiga ciência era testada em sangue,
Sangue que alimentava a boca contrária,
Cada vez mais a alma se fechava no seu destino.
Amor era arte de fazer sofrer
de sangrar o que existe de precioso nos irmãos e irmãs, sejam puros ou não.
Nada importava, senão a mim mesmo.
Técnicas bélicas aliadas ao obscuro do cerne
Multiplicavam o ouro e terras
A posse era mais importante do que eu possuía.
O sorriso revelavam dentes da fera que havia me tornado
que feria a mim mesmo enquanto apunhalava corações camponeses
pelo brilho dos braceletes e pedras opacas em luz.
Quanto mais eu desejava menos tinha em beleza
Esvaia-se em pó entre o universo e o infinito
Rituais eram celebrados atraindo falsa luz as desmerecidas conquistas.
Provava do prato da vergonha
Havia me acostumado ao amargo
cheguei a apreciar.
O coração diminuindo
esmagando valores que talvez eu não tivesse
tentando conhecer o amor matando-o
Caminhei por abismos intermináveis para me encontrar
desviando do sorriso impuro e da brisa fétida
até chegar a minha imagem que, no pensamento, vivia tão bela.
Tamanho susto levei com a transfiguração
Reações de fúria e colapsos de tristeza assolaram-me
eu havia perdido o brilho que me movia.
Culpados apareceram como ramas
vingança e retalhação eram os meus olhos
falsa pureza e magnetismo espectral se fizeram os meus pés.
No silêncio da noite, pactos eram feitos
regados ao sangue contaminado
e o veneno se fez homem mais uma vez.
Anéis e colares enfeitavam meu cavalo
que sangrava pela grama
e mirava uma só direção perdida.
Choro e lágrima usados em comunhão
selaram as juras em soneto
prometi vingança e pragas.
Espalhei ódio e destruição em meio caminho
afiando lanças que me feriam sem meu consentimento
arrancando mais lágrimas de uma alma que já se via seca.
Mas no fundo podia-se ver uma luz humilde
Gritando aos Deuses adorados:
_ Eu quero amar ! Eu quero amar!
Tanto querer ainda estava absorto em trevas
Afastando toda oportunidade
Ferindo as mãos estendidas.
Já não mais temia aos Deuses,
sentindo que o ódio eram meu mestre,
teci teias indestrutíveis entre mim e o Homem.
O sentimento de ser superior cresceu em meu peito
Apadrinhando todo o negro resto,
A história parecia não mais ter fim.
Milho, leite e ovos não eram mais derramados Sua homenagem
o olhar não tovaca as bordas dos caídos olhos
e mãos e pernas se debatiam, misturando ódio e tristeza.
Me sentia perdido,
quando tudo aquilo teria seu fim revelado?
até onde eu poderia ir por minhas próprias pernas?
Teria eu me afastado tanto da Luz?
a eterna criança da Deusa havia se tornado homem
queria andar por si em caminhos esquerdos.
Já sem sentidos dentro do turbilhão de amarguras
podia ouvir meu coração se partindo
e o choro mudo durava por toda uma noite.
O Sol nascia sem a promessa da esperança
Podia sentir o peso do Querer
Não queria me desfazer.
Me esquivei dos ataques que pude
Matei a todos que dei conta
Mesmo com o cansaço que vinha de cima.
Então, em uma simples noite
companheira das antigas armações
ouvi minha alma gritar
Gritava como um lobo faminto
pedindo tudo o que eu havia negado a mim mesmo
Todo amor e todas as cores.
E em uma noite dessas
que meus olhos quiseram os seus
senti calor em meu corpo.
Me senti acalentado por meus próprios sonhos
abraçado por uma perfumada sensação
Preenchido por seu sorriso.
Desejei minha mão tocando a sua
Meu corpo dentro do seu
Meu coração dentro do seu.
Então você estendeu sua mão para mim,
Prometeu me ajudar
me guiar por essa desconhecida realidade.
Ao ver sua mão suavemente dobrada
estendida em minha direção
confesso, tive medo.
Me confunfi em pensamentos
meu coração batia em um ritmo anormal
Senti um poder que nunca havia esperenciado.
Que poder era esse, capaz de coisas inimagináveis pelo homem?
Queria saber, tinha ânsia.
Foi quando você disse AMOR !
Caminhei como um animal amedrontado em sua direção
Os olhos carregados de lágrimas
Guiado por uma invisível corrente.
Abracei seu frágil corpo
trouxe para perto do meu.
Senti o seu perfume da mais simples pureza.
Alegrias brilharam dentro de mim
Felicidade bem-vinda em meu coração
Chegou rompendo crostas negras de aflição.
Ainda posso me lembrar de minhas mãos segurando sua cabeça
Procurando seus olhos com medo de perdê-los
Soluços como ganidos eram ouvidos em todas as esferas.
Eu estava amando.
Te abracei mais uma vez como a um irmão
e te prometi amor eterno.
Dediquei a você minhas juras mais poderosas,
guardadas na garganta por gerações
Prometi que nenhum mal se aproximaria de você.
Demos as mãos,
Olhamos para a mesma direção
e, de repente percebi.
Abraçara em amor profundo
Fizera juras sinceras, brilhantes em coração
Dera as mãos com força a uma pessoa que não conhecia.
Temeroso em saber quem era, ainda caminhamos
Dessa vez em seguras direções
e, somente as vezes, me permito olhar pra meu companheiro fiel.
Que não é mais ninguém
senão meu verdadeiro Eu .